Frequência uterina enquanto pista para sentir-com vivos e mortos
Resumo: Esta dissertação propõe o conceito de frequência uterina como um disparador estético e político para refletir sobre a relação entre o corpo e o planeta Terra. A noção é desenvolvida a partir do diálogo com a psicologia pós-junguiana de James Hillman, especialmente suas ideias sobre imagem e alma, e com o conceito de Corpo sem Órgãos, elaborado por Gilles Deleuze e Félix Guattari. A frequência uterina é concebida como um marcador do feminino na ciência, em interlocução com pensadoras ecofeministas como Donna Haraway, Vinciane Despret, Isabelle Stengers, Ursula K. Le Guin e Maria Puig de la Bellacasa. Seus pensamentos contribuem para tensionar as narrativas do Antropoceno e imaginar outras formas de nos relacionarmos com Gaia. Por meio de cartografias e conversas intuitivas entre vivos e mortos, a frequência uterina é performada como um convite à reflexão sobre nossa origem comum: todos viemos de um útero, assim como somos filhos e filhas da Terra. Com Haraway, a proposta de pensar-com se desdobra em sentir-com. A partir de seu pensamento tentacular e da criação de imbróglios, a frequência uterina se afirma como uma reivindicação ecofeminista. Outro imbróglio criado diz respeito à dualidade entre vida e morte que o útero manifesta, sendo um espaço de ciclicidade e decomposição, uma espécie de composteira, como sugerido por Haraway. Também com Silvia Federici, são evocadas tradições de saberes femininos historicamente marginalizados e, em muitos casos, violentamente silenciados por desafiarem a linearidade patriarcal que separa vida e morte. Convocar conversas com seres não humanos e com os mortos aparece, então, como um desvio possível, prática recorrente entre mulheres e vivenciada pelas interlocutoras desta pesquisa. Estas são mulheres com quem a pesquisadora se formou como facilitadora de círculos femininos, bem como participantes do Curanderia, círculo conduzido por ela. Por fim, a frequência uterina emerge como uma aposta no cuidado frente aos riscos de captura pelo sistema colonial-capitalista. Ela dialoga com o saber-do-corpo, como propõe Suely Rolnik, com os desvios à feitiçaria desse sistema como sugerido por Isabelle Stengers e Philippe Pignarre e como formas de resistência e reencantamento da existência.
5/8/20241 min read